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7 DE SETEMBRO A HISTÓRIA CONTADA

 HISTÓRIA

NAQUELA ÉPOCA JÁ EXISTIA O “FAKENEWS”.


Por EDUARDO RUSCHEWSKY - POETA, ESCRITOR e JORNALISTA

(...) Meus heróis / Morreram de overdose/ Meus inimigos / Estão no poder(...). (Cazuza em “Ideologia”)

Dizia um amigo meu, de saudosa memória, que a História é constituída de mais exageros que realidade, afirmando mesmo que esta tem a proporcionalidade de 30% de fatos e 70% de criatividade, ficção. É muito comum vermos os detalhes de um fato narrados de maneira diferente por vários autores. No tocante ao assunto, considero que ele era partidário da frase “Quem conta um conto, aumenta um ponto”.  Pois bem... Embora tenhamos sido “descobertos” em 1500, o Brasil só passou a ter vida própria em 1530, quando Portugal resolveu implantar aqui o sistema de Capitanias Hereditárias, sistema já testado anteriormente em Madeira, Cabo Verde e Açores com sucesso.

Pintura de Armando de Martins Viana retrata a chegada de Dom João

O encarregado de administrar o sistema foi Martin Afonso de Souza e consistia em oferecer lotes (ou capitanias) para que o donatário arcasse com os gastos que eram da Coroa Portuguesa e, ainda, pagasse impostos. O sistema fracassou e em 1549, foi criado o Governo Geral do Brasil, sendo nomeado governador Tomé de Souza.

Nascia, aí, o primeiro caso de nepotismo que se tem noticia no nosso país. Tomé de Souza trouxe com ele um filho natural chamado Garcia d’Ávila, e a este doou um imenso latifúndio, a Casa da Torre, dividindo o futuro Estado da Bahia e terras vizinhas com a Casa da Ponte, pertencente a herdeiros de Caramuru.



Casa da Torre na praia do Forte, na Bahia - Divulgação

Séculos depois (nesta época se centra o nosso relato), em 1807, a Corte Portuguesa abandonou Lisboa e aqui aportou fugindo de Napoleão Bonaparte e trazendo o costume europeu de não cuidar da higiene pessoal, disfarçando os odores com perfumes e outros recursos... O primeiro monarca do Brasil, D. João VI, e sua família, não fugia à regra... Gordinho, glutão, feio, era uma figura indecisa e medrosa. Tinha verdadeiro horror de trovoadas, por aqui as tempestades de verão eram constantes, deixando qualquer audiência ou ato solene para se trancar na alcova real e, à luz de vela, ficava rezando para seus santos de devoção até que o tempo melhorasse...

Pelas evidências históricas, D. João gostou muito do Brasil que por aqui foi ficando. Tanto que quando os franceses foram expulsos de Portugal e, logo em seguida, aconteceu o Congresso de Viena, a paz foi decretada. Quando a guerra que se travava na Europa chegou ao fim, o príncipe português preferiu não voltar a Lisboa. Na nova capital do Império, sediada no Rio de Janeiro, o príncipe regente conseguiu ajeitar a pesada estrutura portuguesa e criou instituições e escolas, fundou o Banco do Brasil e fez outras obras como o Museu Nacional e a Biblioteca que abarrotou de livros, depois de pegar no porto de Lisboa, onde os tinha abandonado.

Aqui, encontrou um belo lugar para morar, - a Quinta da Boa Vista - onde ficava, afastado da esposa, Carlota Joaquina, que vivia em Botafogo. Ressalte-se que os dois não se suportavam. O Brasil caminhava claudicante, comandado por um governante acometido de vertigens e constantes crises de ansiedade, provocadas, principalmente, pela falta de afeto familiar. Foi quando, em 1821, ante a recusa do filho, então com 23 anos, de fazê-lo, e partiu apressadamente para Portugal aqui deixando D. Pedro governando o Brasil. É que a situação na Corte lusa estava ficando insuportável com a formação de um Conselho de Regência para comandar Portugal em lugar do monarca. Agindo rápido, conseguiu a tempo deter o golpe de Estado. Mas, mesmo assim, as cortes passaram a diminuir seu poder, principalmente por sua demora no Brasil.

Fazendo um balanço da gestão de D. João VI, se por um lado, a nobreza e – por que não? – o povo, pouco afeitados à limpeza pouco modificaram os hábitos, por outro lado ocorreram avanços políticos que iriam culminar com a independência do Brasil em 1822, patrocinada por seu filho, D. Pedro.

CONTROVÉRSIAS DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

O Príncipe Pedro, criado no Brasil desde os dez anos de idade, já era considerado brasileiro (só não gostava de ser chamado de “brasileiro” pejorativamente pelos lusos). Aqui se encontrava perfeitamente afeito às coisas da terra, frequentador de algumas alcovas e famoso por suas escapadas noturnas. No tocante a Portugal, as atitudes de Dom Pedro eram de franca afronta. As Cortes, à revelia do seu pai, vinham tomando decisões contrárias ao Brasil, chegando a exigir que as províncias brasileiras elegessem cada uma sua junta de governo e estas só obedecessem a governadores de armas, na verdade interventores militares ligados diretamente a Lisboa. Isto somado à exigência da volta do príncipe regente ao Reino de Portugal...

Em 1822, D. Pedro resolveu fazer uma viagem a São Paulo, deixando o governo entregue à Princesa Leopoldina com o aconselhamento do seu fiel servidor José Bonifácio de Andrade. Decorridas três semanas e, após passar por Santos, a comitiva de D. Pedro subiu a colina do Ipiranga com muito esforço e tendo por vezes de caminhar para não matar os animais de cansados.  D. Pedro havia comido algo que não lhe fizera bem, pois não haviam muitos cuidados com a alimentação e, como comentamos anteriormente, poderia ter ingerido carnes já apresentando sinais de putrefação. A indisposição estomacal está provocando uma diarreia e o monarca fora forçado a fazer uma parada para aliviar as dores e a incontinência fecal.

Permitiu que parte da tropa adiantasse a viagem ate uma venda à beira da estrada, onde deveriam parar para refeição e descanso. Após isto, desmontou de sua mula, entrando num matagal à beira da estrada para satisfazer suas necessidades fisiológicas. Neste interim, chegaram dois mensageiros, exaustos e esbaforidos. Eram o Oficial do Supremo Tribunal Militar, Paulo Bregaro, e o major Antonio Ramos Cordeiro que eram portadores de mensagens urgentes e preocupantes.

Foi, então, que o chefe da nação, “pego com as calças na mão”, recebeu uma carta da Princesa Leopoldina que pedia que ele assegurasse atenção aos conselhos de José Bonifácio e outra deste dizendo que providências imediatas tinham que ser tomadas pois tinha conhecimento da chegada de 7.100 soldados portugueses para juntarem-se a outros 600 que haviam desembarcado anteriormente na Bahia e dali iriam atacar o Rio de Janeiro. Bonifácio foi taxativo: “ou partir imediatamente para Portugal e lá ficar, como D. João VI, refém das cortes ou ficar e proclamar a Independência do Brasil, fazendo-se seu imperador ou rei”.

Preocupado e indignado, ele voltou à estrada. Existem algumas versões sobre o ato da Independência, mas nos parece mais verdadeira a do Padre Belchior, um religioso que acompanhava a comitiva, e relatou por escrito quatro anos depois do fato. Conta ele que Dom Pedro, tremendo de raiva, atirou os papéis no chão e saiu andando em silencio. Já no meio da estrada, parou de repente e disse:

(...) —Padre Belchior, se eles querem, eles terão a sua conta. As cortes me perseguem, chamam-me com desprezo de rapazinho e de brasileiro. Pois verão agora quanto vale o rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossas relações. Nada mais quero com o governo português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal”

Respondemos com entusiasmo:

— Viva a Liberdade! Viva o Brasil separado! Viva Dom Pedro!

O príncipe virou-se para seu ajudante de ordens e falou:

— Diga à minha guarda que eu acabo de fazer a independência do Brasil. Estamos separados de Portugal.

O tenente Canto e Melo cavalgou em direção a uma venda, onde se achavam quase todos os dragões da guarda (...)

(GOMES, Laurentino – 1822 – p. 36,- Ed. Nova Fronteira Participações S.A.  – Rio de Janeiro – 2010.

Famoso quadro 'Independência ou Morte', do artista Pedro Américo - Domínio Público via Wikimedia Commons

Assim, graças a uma parada forçada numa estrada foi proclamada a Independência do Brasil.

Há um quadro famoso que retrata a Independência, pintado  em 1884, 62 anos após o fato, o que nos leva a crer ter sido criação do pintor o ambiente retratado. Vejamos alguns detalhes nele contidos:

1. Não há comprovação de que a casa pintada no canto superior direito da tela tenha realmente existido naquele local. Talvez a inclusão do imóvel tenha ocorrido por confusão do pintor, uma vez que, no momento em que lhe atacou o mal estar, D. Pedro tinha despachado para um pouso próximo uma parte da tropa.

2.  O Grito do Ipiranga não aconteceu às margens do Rio Ipiranga, como é mostrado no quadro, mas sim no alto de uma colina, logo após uma crise de diarreia e nem há comprovação de que ele estava montado no momento do grito.

3. A comitiva do Rei era bem menor que a retratada.

4. D. Pedro e sua comitiva não vestiam roupas de gala.

5. Como já dissemos antes, D. Pedro não montava um cavalo, mas, sim, uma mula, animal mais rústico bastante usado à época em viagens longas.

Estes e outros fatos que narramos anteriormente nos comprovam que alguns autores reconhecem o fato, mas, por falta de documentação ou coisa que o valha, contam os detalhes como eles acham que deveria ter ocorrido...


 


 


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