PL DO CIGARRO ELETRONICO DIVIDE SENADORES
Proposta sobre cigarro eletrônico divide senadores
Augusto Castro | 21/05/2024, 20h15
Fonte: Agência Senado
Audiência pública realizada na terça-feira (21) debateu o projeto de lei que regulamenta o uso de cigarros eletrônicos, os chamados vapes, atualmente proibidos no Brasil. O PL 5.008/2023 é de autoria da senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) e trata da produção, importação, exportação, comercialização, controle, fiscalização e propaganda dos cigarros eletrônicos. O debate, que dividiu a opinião dos senadores, envolveu três comissões do Senado, além de profissionais de saúde.
A possibilidade de o Brasil regular a produção, comercialização, fiscalização e propaganda dos cigarros eletrônicos recebeu apoios e críticas de especialistas nesta terça-feira (21), em audiência pública conjunta das Comissões de Assuntos Sociais (CAS), de Assuntos Econômicos (CAE) e de Fiscalização e Controle (CTFC).
O PL 5.008/2023, da senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS),
aguarda votação na CAE, onde é relatado pelo senador Eduardo Gomes (PL-TO).
Soraya mostrou vários aparelhos diferentes de fumo eletrônico, com diversos
formatos, além de óleos e outros produtos com sabores e cheiros diversos. Ela
disse que qualquer pessoa pode comprar esses produtos em camelôs ou pela
internet. Para a senadora, a regulamentação servirá para controlar a produção,
o comércio e a propaganda do fumo eletrônico e evitar que sejam direcionados
para crianças e adolescentes.
— A Alemanha, por exemplo, já fez uma exigência para a indústria de que os dispositivos eletrônicos sejam desenvolvidos com senha ou com digital, para que crianças não tenham acesso — disse Soraya.
A diretora da organização Aliança de Controle do Tabagismo
(ACT), Mônica Andreis, posicionou-se contrária à aprovação do projeto e
registrou que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu os
cigarros eletrônicos no Brasil em 2009, renovando essa proibição em 2024. Ela
disse que o uso de cigarro eletrônico aumenta os riscos de doenças
cardiovasculares e pode causar graves sequelas nos pulmões. Mônica afirmou
ainda que os cigarros eletrônicos são viciantes e atraem principalmente os
jovens. A diretora defendeu o uso de campanhas e ações de educação e de
informação sobre os males causados por esses produtos.
— São produtos sabidamente viciantes, nocivos à saúde e que,
por suas características de design, de tecnologia e sabores, atraem
principalmente o público jovem, na maior parte nunca fumantes.
No mesmo sentido, a cardiologista Jaqueline Scholz,
especialista em tratamento de tabagismo, disse que o tabagismo eletrônico causa
os mesmos males do tabagismo tradicional, mas de maneira mais rápida e mais
intensa. Ela relatou que pacientes de idades variadas que usam cigarros
eletrônicos apresentam nível de nicotina no sangue similar a quem fuma 20
cigarros tradicionais por dia. Jaqueline afirmou que esses dispositivos causam
dependência mais rapidamente que o cigarro tradicional e avaliou que, se houver
regulação, haverá aumento do consumo.
Regras e monitoramento
A favor da regulamentação, a farmacêutica Alessandra Bastos
Soares disse que mais de 3 milhões de pessoas já usam cigarros eletrônicos ou
vaporizadores no Brasil, mesmo com o comércio desses produtos sendo proibido.
Para ela, é necessário que o país aprove uma regulamentação para que o poder
público possa criar regras e monitorar o fenômeno, como já fizeram o Canadá e o
Reino Unido, por exemplo. Ex-diretora da Anvisa, Alessandra defendeu uma
regulação equilibrada com ênfase em campanhas educativas que mostrem os males
causados pelo fumo.
— São mais de 80 países que têm regra para este tema — disse
Alessandra.
Também favorável à regulamentação, Alexandro Lucian disse
que fumou cigarros normais durante 15 anos e que só conseguiu largar o vício de
três maços diários após substituir por cigarro eletrônico. Ele disse que está
agora há nove anos sem fumar cigarros tradicionais e que sua saúde está muito
melhor, mesmo sendo usuário de cigarro eletrônico. Para Lucian, esses
dispositivos são instrumentos eficazes para quem quer parar de fumar e vencer o
vício em tabagismo.
O médico Dirceu Barbano, ex-presidente da Anvisa, também
argumentou a favor da regulamentação dos cigarros eletrônicos para que o país
possa disciplinar a venda e a propaganda, diminuindo a exposição do produto e
fornecendo ações de educação e informação contra o uso de tabaco. Em sua
opinião, a proibição total foi eficaz na primeira década após 2009, mas nos
últimos cinco anos, não mais, pois o consumo aumentou muito no período.
— Sabemos que não há padrões seguros de consumo. A medida
regulatória tem que ter um objetivo claro, que é reduzir a exposição e reduzir
a possibilidade de vício — disse Dirceu.
Mais nicotina
Já a médica Stella Regina Martins, do Instituto do Coração
do Hospital das Clínicas de São Paulo, defendeu a manutenção da proibição dos
cigarros eletrônicos no Brasil. Especialista em dependência química, ela disse
que os vaporizadores, ou vapes, são uma nova forma de consumo de nicotina,
porém mais potente e intensa, que também aumentam os riscos de a pessoa ter
infarto, acidente vascular cerebral (AVC) ou doença pulmonar obstrutiva
crônica, por exemplo.
O especialista em regulação e vigilância sanitária da Anvisa
André Luiz Oliveira da Silva disse que a agência reguladora optou pela
proibição dos cigarros eletrônicos por entender que são produtos que
comprovadamente causam muitos males à saúde dos usuários, principalmente
crianças e adolescentes. Segundo ele, diversas entidades apoiam a decisão da
Anvisa de proibir os cigarros eletrônicos. Entre elas, o Ministério da Saúde, o
Instituto Nacional de Câncer (Inca), a Associação Médica Brasileira, a Sociedade
Brasileira de Oncologia Clínica, a Sociedade Brasileira de Cardiologia e a
Sociedade Brasileira de Pediatria, entre outras.
Também participaram do debate o médico Jorge Alberto Costa e
Silva; o representante da Associação Brasileira da Indústria do Fumo, Lauro
Anhezini Junior; o médico Paulo César Corrêa, da Sociedade Brasileira de
Pneumologia e Tisiologia; Alcindo Cerci Neto, do Conselho Federal de Medicina;
a toxicologista Ingrid Dragan Taricano; o promotor de Justiça Guilherme Athayde
Ribeiro Franco; a procuradora Élida Graziane Pinto; e o diretor-geral do
Instituto Nacional do Câncer (Inca), Roberto Gil, entre outros.
Senadores divididos
Também debateram os senadores Dr. Hiran (PP-RR), Eduardo
Girão (Novo-CE), Zenaide Maia (PSD-RN) e Rodrigo Cunha (Podemos-AL), entre
outros.
Rodrigo Cunha apoiou a regulamentação dos cigarros eletrônicos como forma de o país controlar o produto e dar mais segurança para os dependentes saberem o que estão consumindo. Ele disse que o cigarro tradicional e o eletrônico fazem mal à saúde, assim como a bebida alcoólica e os refrigerantes. Para ele, a proibição da Anvisa não deu certo, pois milhares de brasileiros estão fumando cigarros eletrônicos.
— Com certeza, a forma de diminuir toda esta situação que já
existe hoje no país é regulamentando a publicidade, a comercialização, a
distribuição — disse Rodrigo Cunha.
Zenaide afirmou ser contra a legalização dos cigarros
eletrônicos no Brasil.
— Na hora que se legaliza, se facilita — avaliou a senadora,
que é médica.
O projeto
O PL 5.008/2023 propõe regras para regular a produção, comercialização, fiscalização e propaganda dos dos dispositivos eletrônicos para fumar cigarros, conhecidos como cigarros eletrônicos. No Brasil, a regulamentação dos produtos fumígenos está sob responsabilidade da Anvisa que, desde 2009, por meio da Resolução 46, proíbe a comercialização, a importação e a propaganda desses produtos.
Entre uma série de exigências para a permissão da
fabricação, importação, exportação e comercialização do produto, estão: a
obrigatoriedade do registro na Anvisa; cadastro na Receita Federal dos produtos
fabricados, importados ou exportados, de acordo com regulamentação própria; e
cadastro no Inmetro, que terá de regulamentar regras apropriadas para definir
os critérios não sanitários de funcionamento do produto, como segurança no
carregamento elétrico e especificações da bateria.
Ainda conforme o texto, será obrigatória a apresentação de
laudo de avaliação toxicológica do cigarro eletrônico para o registro na
Anvisa. O órgão avaliará informações como os aditivos e materiais utilizados no
equipamento. A Anvisa terá que considerar ainda a comparação toxicológica entre
o cigarro eletrônico e o cigarro convencional e, de forma objetiva e no cômputo
total dos indicadores, avaliar se o cigarro eletrônico oferece risco inerente à
saúde, “igual ou menor que o risco inerente ao consumo de cigarro
convencional”. Para isso, será utilizado como parâmetro comparativo as
avaliações de emissões de substâncias tóxicas exigidas para registro de
cigarros convencionais no órgão.
Na justificação do projeto, Soraya argumenta que, apesar de proibido no Brasil desde 2009, o comércio de cigarros eletrônicos é uma realidade. Ela cita Pesquisa Nacional de Saúde (2019) segundo a qual 16,8% dos adolescentes, a partir de 13 anos, já experimentaram. Os dados mostram ainda que 70% dos usuários têm entre 15 e 24 anos. Outro levantamento do Sistema Vigitel (2023), do Ministério da Saúde, concluiu que o uso entre adultos com mais de 24 anos de idade é 75% inferior, quando comparado com pessoas de 18 a 24 anos.
“A crescente utilização dos cigarros eletrônicos tem acontecido à revelia de qualquer regulamentação. Do ponto de vista da saúde, não há controle sanitário sobre os produtos comercializados e as embalagens não apresentam advertências ou alertas sobre os riscos de sua utilização. Além disso, a indústria tem lançado mão de estratégias veladas de propaganda, como o uso de influencers e de postagens em redes sociais, para disseminar seu uso. Do ponto de vista econômico, a importação e a comercialização dos DEF são realizadas à margem do sistema tributário, com elevadas perdas de arrecadação”, diz a senadora.
Com informações do site: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2024/05/21/especialistas-apresentam-pros-e-contras-da-regulacao-de-cigarros-eletronicos
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