HISTÓRIA
Por Eduardo Kruschewsky
Poeta, escritor,
jornalista (DRT2141); Membro do Instituto Histórico
e Geográfico de Feira de Santana; Presidente da Academia
Feirense de Letras por 6 mandatos e Vice Presidente por 2
mandatos.
HISTÓRIA DA MICARETA DE FEIRA
A Micareta de Feira de Santana é a festa mais popular da cidade
e é aguardada pelo feirense com muita ansiedade, mercê do
clima de alegria que toma a cidade. Na verdade, a festa já teve
seus altos e baixos, no que depende das administrações
públicas, mas decorridos 86 anos, se consideramos o ano do
fato em que ocorreu a transferência dos festejos carnavalescos,
na primeira parte do século XX (1937), o povo não deixa de
esbanjar sua alegria em nosso carnaval fora de época que, aliás,
deu origem a que outras cidades fizessem o mesmo, incluidas
algumas capitais como Aracaju, Fortaleza e outras mais…
A seguir, vamos fazer um apanhado dos fatos que aos
poucos adaptaram a festa à maneira de festejar de hoje em dia…
OS PRIMÓRDIOS DA MICARETA
Foi em 1937, que se deu a mudança de Carnaval para Micareta
em Feira de Santana. Naquele ano, a festa de Momo chegou a ser
iniciada, porém fortes temporais a interromperam e o Prefeito
Heráclito Dias de Carvalho decidiu transferir a data dos festejos.
Mas, sem data marcada, uma vez que, antigamente, o povo
brasileiro levava muito a sério o período da quaresma, (quarenta
e cinco dias entre a quarta feira de cinzas e o domingo de
Páscoa), quando as igrejas cobriam imagens de roxo e todos se
preparavam para reverenciar o padecimento do Cristo. Na Quinta
e Sexta da Paixão faziam-se jejuns e orações; as rádios tocavam,
apenas, músicas clássicas e os cinemas exibiam velhos filmes
sobre a Paixão de Cristo. Enfim, o clima era muito denso, como
se o mundo parasse, cheio de trevas.
Naquele ano, com a festa marcada para o Domingo de Pascoa, foi
criada uma comissão organizadora liderada pelo coletor
estadual Manoel da Costa Ferreira, o Maneca Ferreira, figura
tradicional na cidade, orador oficial da Filarmônica Vitória e um
dos implantadores da doutrina espírita (espiritismo) na cidade.
Afeito às artes, Maneca era pintor, escultor, desenhista e
teatrólogo. Muito bem relacionado, preocupava-se, já naquela
época, com o patrimônio artístico e cultural de sua terra. A
primeira comissão organizadora era formada com João Bojô
(artista), Oscar Marques (comerciante), Deraldo Araújo
(cenógrafo), Ezichio Carneiro (comerciante) e o apoio do animado
folião, professor e jornalista da “Folha do Norte”, Antonio
Garcia, além do maior poeta feirense de todos os tempos, Aloísio
Resende. Aloisio, em princípio, não concordou com o novo nome
dado à festa – Micareme, como se chamava uma festa popular na
França – mas, farrista que era, acabou caindo na folia.
Participaram do evento três blocos feirenses: “A Flor do
Carnaval”, “Filhos do Sol”, “As Melindrosas” e mais o convidado
“Cruz Vermelha”, vindo de Salvador. O bloco “As Melindrosas”
foi fundado por Manoel de Emília do Tanque da Nação e tinha
como compositor Aloísio Resende. Este bloco, quando extinto
anos depois, deu origem ao “Ali Babá e os Quarenta Ladrões”,
sob a direção do próprio Manoel de Emília, além de Luizão
Borracheiro, Antonio Pirulito e Aroeira. O “Ali Babá” firmou-se e
passou a ter sede própria, tornando-se clube social, até hoje
existente no Tanque da Nação. Ressalte-se que choveu muito
durante os folguedos e o jornal Folha do Norte publicou a
seguinte manchete: “A FEIRA DE SANT´ANNA DIVERTIU-SE,
MAS FICOU INSATISFEITA”. Porém, a mudança foi bem aceita
pelo povo e o evento passou a ser realizado quinze dias após
a Semana Santa e sua fama cresceu, principalmente em Salvador,
passando a chamar-se “Micareta”. Anualmente, vinham jovens
feirenses estudantes na capital e seus amigos, habituées do
Carnaval de Salvador para a Micareta de Feira. É isto que nos
relata João Falcão, no seu livro “A Vida de João Marinho Falcão”,
1ª edição, datada de 1993, página 157: “Na famosa e atraente
Micareta de Feira, a casa se enchia de colegas e amigos que
não tinham onde ficar, nem dinheiro para pagar hotéis. Todos
eles recordam esse tempo com saudades e referências elogiosas
àquele anfitrião paciente e bondoso”.
O sítio da festa era a mais famosa artéria da cidade, a Rua
Direita, hoje Conselheiro Franco, e no seu princípio foi revestida
de fausto e glamour: As famílias enfeitavam os seus carros (os
famosos “corsos”): pai, mãe e, principalmente, as moças
participavam da festa desfilando. Com o passar dos anos,
surgiram os blocos ou cordões carnavalescos como: “As
Melindrosas”, “Filhos do Sol”, “Flor do Carnaval”, “Cadetes do
Amor”, “Zé Pereira”, “Amantes do Sol”, entre outros. Muitas
destas entidades desfilavam com carros alegóricos e o
responsável pela confecção destes era o cidadão conhecido
como João Bojô que tinha um galpão localizado nos fundos da
Matriz, construído especialmente para a confecção e montagem
destes carros. A tradição ficou até a década de 50, quando João
Bojô resolveu mudar-se para Sergipe.
As primeiras entidades afros, os famosos afoxés e blocos de
índios, além de escolas de samba surgiram na década de 40,
entre elas “Acadêmicos da Feira”, “Mocidade Feirense” e
“Malandros do Morro”, esta ultima criada por Oscar Marques, o
“Oscar Tabaréu”, comerciante, dono do “Cassino Irajá” e, mais
tarde, deputado estadual. Reconhecido festeiro, Oscar foi
convidado a coordenar a Micareta e o fez durante anos.
Focloricamente, conta-se (o fato pitoresco é contestado por
alguns feirenses) que Oscar costumava enfeitar um carro e
colocar nele uma bandinha e as “meninas” do Cassino. Quando
chegava ao ponto mais central da folia, os músicos tocavam
freneticamente uma marchinha e as meninas requebravam,
acenavam, jogavam beijos e a rapaziada, em delírio cantava:
“Não me importa que a mula manque, o que eu quero é rosetar”.
Em 1954, com o estrondoso sucesso que fazia o trio elétrico
Dodô & Osmar, em Salvador, criado três anos antes, em 1951, o
coordenador Oscar Tabaréu resolveu trazer a famosa “fobica”
para a Feira de Santana. Foi este o primeiro trio elétrico a
apresentar-se na folia feirense.
A festa agigantou-se e, na presidência de Osvaldo Franco (Ioió
Goleiro) foi transferida para a Avenida Senhor dos Passos,
expandindo-se pela Praça João Pedreira e Avenida Getúlio
Vargas, ocupando os dois lados da avenida. Alcançando fama
nacional, para aqui afluíram turistas de todo o país. Mais tarde,
na gestão de José Raimundo de Azevedo, a festa foi ampliada,
estendendo- se pela Avenida Getúlio Vargas e permanecendo
parte na Avenida Senhor dos Passos. Finalmente, em 2000, por
iniciativa do secretário Professor José Raimundo e prefeito
Clailton Mascarenhas, com o notório agrado popular, a Avenida
Presidente Dutra foi transformada no palco ideal para a grande
festa popular.
O sítio da Micareta é delimitado oficialmente; mas, o povo
festeja por todos os cantos e recantos. Como dissemos, outros
municípios adotaram a prática da Micareta e algumas capitais
passaram a realizar seu carnaval fora de época com muito
sucesso. Em 2001, o então prefeito José Ronaldo confirmou o
novo circuito da folia que continuou lá pelos anos subsequentes.
A festa, nos seus primeiros anos, fez surgir uma galeria de figuras
populares como Maneca Ferreira, Antonio Garcia, João Bojô,
Manoel de Emília, Aloísio Resende e outros.
Num passado mais remoto, na segunda parte do século XX,
participaram tipos como o argentino naturalizado feirense,
Charles Albert, que se vestia com fantasias exuberantes durante
a festa e desfilava nos grandes bailes à fantasia do Rio de Janeiro
e Recife; o artista de teatro Aliomar Simas, o Lili Bolero; os
famosos boêmios “Boné”, “Pão de Leite”, já falecidos; a
babalorixá Mãe Socorro, morta em 2003, que, na festa do ano de
1960, passou a desfilar sua Escola de Samba Escravos do
Oriente, do bairro Rua Nova.
Permanece viva a tradição do “Bacalhau na Vara”, o bloco mais
velho (datado da década de 20) anterior ao evento da Micareta.
Mantendo sua tradição de executar as velhas marchinhas com
banda de sopro, a entidade recusa-se a adotar a moda axé.
Segundo nos contou o pesquisador, de saudosa memória,
Antônio Moreira Ferreira (Antônio do Lajedinho), o “Bacalhau” foi
criado pelo comerciante Manoel Pereira. Este, para dar uma
aparência bonita ao bacalhau de sua mercearia, prato de todas as
mesas a partir das quartas feiras de cinza e durante a quaresma,
borrifava com água e sal o peixe e o enfiava numa vara,
amarrando na cerca de pau a pique dos fundos da mercearia,
pondo para secar. Para evitar urubus, cachorros, gatos e outras
visitas indesejáveis, postava-se de plantão, deixando o negócio
aos cuidados da sua esposa. Quando alguém perguntava por ele,
a mulher respondia: “- Ah, meu senhor, Manoel está aí no fundo
com o bacalhau na vara!”. Começaram a surgir piadas de duplo
sentido e Manoel, incentivado por amigos, resolveu criar
um bloco que passou a desfilar no amanhecer das quartas feiras,
fechando o Carnaval. Manoel puxava a multidão portando um
estandarte onde estava pendurado um bacalhau enfeitando
com tranças de cebolas e alho. O bloco era puxado por uma
bandinha formada por ele, que era músico da Vitória e por outros
músicos de filarmônicas. Do bloco fizeram parte: Antoninho
Bodão, Gringo Cabeçorra, Carlos Pitombo, Gilberto Falcão,
Florisberto Moreira, Almiro Vasconcelos e outros.
Posteriormente, o bloco foi desfeito e depois revitalizado, desta
vez sob a direção da família Silva, proprietária do jornal “Folha do
Norte” que comanda o bloco até hoje, desfilando aos sábados
micaretescos, para alegria dos tradicionalistas.
O POVO SE DIVERTIA NOS CLUBES SOCIAIS, TAMBÉM.
A festa popular, até fins do século passado, acontecia nas ruas
até por volta das 21 horas, sendo o ápice ao anoitecer. Após isto,
boa parte do povo ia para casa a fim de descansar e arrumar-se
para participar dos bailes noturnos nos clubes sociais. Os
primeiros bailes micaretescos foram realizados nas sedes das
Filarmônicas 25 de Março, Vitória e Euterpe Feirense, aonde
todos iam “enfatiotados”, ou seja, bem vestidos: os homens de
paletó e gravata e as mulheres de vestidos de festa. A classe alta
ia para a 25 de Março; a classe média para a Vitória e o povão se
divertia a valer na Euterpe, ao som de orquestras carnavalescas,
geralmente formadas pelos membros das próprias filarmônicas.
Mais tarde, no fim de 1944, na gestão do prefeito Coronel Eduardo
Froes da Mota, foi inaugurado o Feira Tênis Clube, localizado no
encontro da Rua Professor Geminiano Alves da Costa com a
Visconde do Rio Branco. Pela Diretoria do Tênis passaram
figuras importantes da história de Feira de Santana. Ocorreram
diversas reformas, com o passar dos anos, sendo a mais
importante foi uma realizada pelo presidente Paulo de Almeida
Cordeiro: a construção do parque aquático, o maior da cidade
desde então. O Feira Tênis Clube tornou-se um clube tradicional
e, na Micareta, seus salões ficavam cheios de foliões que
dançavam ao som de marchas antigas, geralmente tocadas pela
banda do Maestro Miro ou outras locais. Nas manhãs
micaretescas do Tênis aconteciam bailes para as crianças; à
tarde, matinês para os adolescentes e, varando a madrugada,
bailes noturnos para os adultos. Eram deslumbrantes os bailes
“Noite do Havaí”, um prenuncio da festa, no Sábado de Aleluia.
Durante a realização, era “malhado” o Judas e lido seu
já famoso “testamento” mexendo com os sócios, seus
familiares, figuras populares e políticos. Ali ocorreram festas de
muita repercussão como “Broto do Ano”; “Glamour Girl”, “Bailes
de Debutantes”, etc., organizadas pelo maior cronista social da
cidade, Eme Portugal, contando, sempre, com a presença do
mais representativo da alta sociedade.
Com o aparecimento do C. C. Cajueiro, em 12/02/1962, 18 anos
após, passou a haver uma divisão na sociedade feirense: A
classe média ficou no Feira Tênis Clube e a alta sociedade foi
para o C.C.C. No Cajueiro, também antecedendo a Micareta,
acontecia o famoso Baile do Caju de Ouro, surgido na gestão de
José Olímpio Mascarenhas. Nele se faziam presentes grandes
nomes da musica brasileira e diversas atrações: artistas da Rede
Globo de Televisão; escritores como Vinicius de Moraes,
estilistas como Ney Galvão; travestis e gente muito famosa,
enfim, os nomes em evidência nas revistas do Sul do País.
Cercado de mordomias, este pessoal tinha todas as despesas
pagas além de receber cachê artístico.
Após a cerimônia de entrega do troféu Caju de Ouro, aconteciam
desfiles de fantasias com nomes como Evandro de Castro Lima,
Clóvis Bornay, Wilsa Carla, Charles Albert, seu irmão André e
outros. No baile estiveram, também, diversas alas de escolas de
Samba do Rio e carnavalescos como Joãozinho Trinta. Aos
poucos, porém, com o forte advento do Axé Music, os
contratados passaram a ser feitos com os grandes nomes do
mundo do trio elétrico. Com a modernização dos trios elétricos,
os grandes nomes da música baiana eram contratados pelos
blocos de rua e o início do desfile destes passou a acontecer
cada vez mais tarde, fazendo os bailes de clubes sociais
perderem a força. A isso se somou o fato de que tem havido
grandes atrasos na saída dos trios, além da criação dos
camarotes, que formavam o famoso “corredor polonês”, onde os
trios, para se destacar, ficavam horas fazendo com que o
folião não tivesse grande interesse em comparecer a clubes,
uma vez que se podia ver as grandes atrações até a madrugada,
hoje inexistente. E mais, o declínio dos clubes sociais,
ocasionado, principalmente, pelo surgimento de várias casas de
shows que funcionam, durante o ano, nos fins de semana e a
criação de condomínios com salões de festa e áreas de lazer.
BLOCOS, AFOXÉS E ESCOLAS DE SAMBA
Feira de Santana já contou com dezenas de blocos: alguns,
de trio, apresentando-se na quinta, sexta, sábado e domingo,
além dos blocos tradicionais ou de percussão, oriundos de
bairros como a Rua Nova, Campo Limpo, Tomba, Baraúnas e Irmã
Dulce, os afoxés, blocos afros e escolas de samba. Contando
apenas com a ajuda oficial do município, estas entidades
colocam seus componentes para desfilar em espaço específico,
onde também ocorrem shows. As escolas de samba de Feira de
Santana mais conhecidas são a “Império Feirense”, a “Unidos de
Padre Ovídio”; a “Escravos do Oriente”, esta criada por
Mãe Socorro, além da “Marquês de Sapucaí”, localizada no
bairro das Baraúnas.
Há, no caso das escolas de samba, um fato interessante: Na Rua
Nova, para desfilar, os dirigentes das escolas são obrigados a
pagar a alguns membros tais como porta-bandeira, mestre
sala e bateria devido à escassa quantidade de componentes. Já
nas Baraúnas, segundo nos contou Dona Vanda, a única
costureira da escola, a entidade tem recebido contribuições do
pessoal que desfila. A única despesa que a escola tem, no que se
refere a pessoal, é com a ala de baianas que são recrutadas em
terreiros de candomblé, inclusive de São Gonçalo dos Campos.
Como paga para os demais participantes, a escola, ao encerrar o
desfile dá uma “cervejada” para comemorar e lanche para todas
as crianças participantes. Logo após o carnaval, mesmo no
período da quaresma, os ensaios na Rua Nova acontecem de dois
em dois dias, nas ruas do bairro e nas Baraúnas, na sede, eles
são diários. Além das escolas, são muitos os blocos afros e
afoxés: Na Rua Nova:- “Nelson Mandela”; “Filhos do Congo”;
“Filhos de Ogum”; “Pomba de Malê”; “Muzambela” ;
“Afrozenza”. Na Chácara São Cosme:- “Senegambia”. No
Tomba:- “Flor de Ixenjá”. No Irmã Dulce:- “Filhos de Nana”. No
Campo Limpo:- “Filhos da Luz”. Nas Baraúnas, existia o
“Moçambique” que desfilou alguns anos, mas, com a morte de
“Cabelinho”, seu fundador, o bloco foi extinto.
BLOCOS DE TRIO
Os primeiros blocos de trio da Feira de Santana surgiram na
Micareta, na década de 70. Com o passar dos anos, foram se
modernizando, trocando a tradicional mortalha pelo moderno
abadá. Tradicionalmente, a Micareta era aberta, às quartas, pelo
bloco de jornalistas “Zero Hora”, existindo ainda outro, o “Filhos
da Pauta”. Eis alguns dos blocos, patrocinados por instituições,
hoje extintos: “Bloco Mendonça” (Supermercado Paes
Mendonça); “Os Nacionais” (Pedro Felzemburg); “FTC” (Feira
Tênis Clube) e “Bloco do Caju” (Clube de Campo Cajueiro) além
de: “Arembepe”, “Bloco da Uca”, “AV”, “Nunsei”, “ Mordomia”,
“Armação”, “Simpatia Quase Amor”, “Pititinga no Espeto” e
outros.
Ressalte-se que ser proprietário de um bloco de trio podia ser
algo bastante rentável. Foi pensando assim que a cantora Ivete
Sangalo, no começo da década de 2000, criou, com alguns
parentes o bloco “A Tribo” que, na Micareta de 2006, foi extinto,
dando lugar a um novo bloco, também de vida curta, o “Coco
Cerveja”, em sociedade com o cantor Durval Lelis, da banda Asa
de Águia,. Entre os blocos de trios e alternativos (que só saiam
um dia), citamos: “A Tribo”, “Auê”, “Bafo de Baco”, “Queixo”,
“da Praça”, “Energia”, “Pinta Lá”, “Animal da Praça”,
“Periquito”, “Lá vem Elas”, “As Donzelas” e muitos outros, a
maioria extinta. Ainda hoje existem os tradicionais blocos de
percussão puxados por bandinhas de sopro, como o “Bacalhau
na Vara”, aos sábados, com bandinha em cima de trio elétrico e
o famoso “Bloco do Tracajá”, organizado de maneira informal
pelo jornalista Reginaldo Pereira, desfilando com tradicionais
grupos de folclore da cidade, como Quixabeira da Matinha e
bandinhas de sopro, batizadas de “Orquestras Sinfônicas do
Sertão”, mas apelidadas pelo povo como “Chupa Catarro”… Com
a presença de jornalistas, políticos e figuras exponenciais da
cidade, o bloco desfila com irreverência, descontraído e
descompromissado, fazendo no domingo de Micareta o seu
percurso na avenida.
FESTAS POPULARES E OUTROS BAILES OCORRIDOS ANTES
DA MICARETA
Além de “Noite do Havaí” e “Caju de Ouro” descritos
anteriormente, a cidade já teve alguns bailes pré-micaretescos
famosos, como o comentado “Mamão de Ouro”, uma sátira ao
Caju de Ouro, criada pelos funcionários do Banco do Brasil, em
sua sede social, a AABB, no Jardim Cruzeiro. O baile teve início
em 1975, quando o autor deste artigo era diretor social iniciando
a tradição que perdurou até em torno de 2000. Nesta época, o
banco possuía um servidor, hoje falecido, chamado Teles que,
fazendo gozação, “batizou” o baile com o nome de “Mamão de
Ouro”… “-Vejam só! – dizia ele – neste banco só tem “mulhermamão”! Longe de se aborrecer, as bancárias levaram na
brincadeira e o ponto alto da festa era a coroação da “Rainha do
Mamão de Ouro” e de seu marido, o “Sanhaço Real”, que –
diziam! – era o pássaro “beliscador” do “mamão”. Aconteceram
os bailes das Atrizes e dos Artistas com a presença dos gays de
Feira, da Bahia e até do sul do país, como a Divina Valéria,
Roberta Close e Rogéria. Existiu, até pouco tempo, o Bailes das
Atrizes sob a coordenação de Ruy Barcelos, mas extinto com o
falecimento do organizador.
Era tradicional a “Levagem da Lenha”, quando, por ocasião das
festas da padroeira da cidade. Senhora Sant´Ana. acontecia
desfiles de carroças, e tipos populares. À noite, em frente à
igreja, ficavam as barracas de comida e bebida, além das
tradicionais roletas para onde ocorria o povo antes, durante e ao
terminar as novenas. Isto fez com, na década de 80, o então
bispo, dom Silvério de Albuquerque, proibisse a parte profana da
festa. Com o fim da lavagem e levagem, foi revitalizado, pelo
pessoal da UEFS, o “Bando Anunciador”, que estava extinto há
muito.
Além deste, ocorriam as “feijoadas”, geralmente promovidas por
jornalistas, como: Feijoada Noite Dia (José Carlos Pedreira, o “Zé
Coió”); Feijoada do Laranjeira (do jornalista Antonio José
Laranjeira); Feijão Chic (de Paulo Norberto); Feijoada do Barriga,
e no ano de 2023, foi organizada a Feijoada, do Fluminense de
Feira, para angariar fundos a fim de ajudar o ex- jogador do Touro
do Sertão, Merrinho.
Com o passar dos anos ocorreram diversas transformações:
micaretescas: deixaram de existir coisas como o “corredor
polonês” (o espaço dos camarotes) devido à falta de segurança
para os foliões que desfilavam no local, uma estreita passagem
entre duas laterais onde ficavam os camarotes; a maioria dos
blocos foi extinta, ocorreu a troca dos dias de sexta a terça pelo
fim semana, de quinta a domingo. A partir de 2023, a festança
começa a parte das onze horas e ocorrerá o arrastão da
segunda feira, pós Micareta, imitando o já existente em Salvador
e o que ocorreu (como dizemos aqui) com a bandinha
comandada pelo músico Manoel Pereira, na década de 1920.
Recentemente, a Prefeitura criou o “Esquenta Micareta”,
inicialmente na Rua São Domingos e, depois de dois anos sem
realizar o evento, mudou o local para a Avenida Fraga Maia,
com um grande número de foliões…
Para satisfação do povo feirense, a chama da Micareta
permanece viva, inovando sempre…
FONTES DE PESQUISA
Antônio Moreira Ferreira (Antônio do Lajedinho), (jornalista e
escritor), hoje falecido;
“Boné” (aposentado e antigo boêmio), hoje falecido;
Clodoaldo Nilo, o “Pão de Leite” (comerciante), hoje falecido;
Clóvis Ramaina (professor e historiador);
Dona Vanda (costureira da Escola de Samba Marquês de
Sapucaí);
João Ciclista (Popular), hoje falecido;
José Olimpio Mascarenhas (comerciante), hoje falecido;
Mestre Paraná (mestre de capoeira e responsável pelo
Projeto Gingamenino);
Neto de Gandhi (músico e coordenador do Projeto Gangazumba);
Roque (presidente da Escola de Samba Marquês de Sapucaí);
Sandra (filha de Mãe Socorro e Presidente da Escola de
Samba Escravos do Oriente);
“Tatu” (filho de Mãe Socorro e presidente do bloco afro Filhos
do Congo da Rua Nova).
BIBLIOGRAFIA
“A Feira no Século XX” (Antônio Moreira Ferreira (Antônio
do Lajedinho));
“A Vida de João Marinho Falcão” (João Falcão);
“Dicionário da Feira de Santana’(Oscar Damião de Almeida);
“Jornal Folha do Norte” – Feira de Santana – Bahia;
“Jornal o Popular” – Alagoinhas – Bahia .
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