Negócio, futebol, paixão e nossas contradições
COPA DO MUNDO
Negócio,
futebol, paixão e nossas contradições
Por Nei Rios
Nei Rios, aposentado, comunista, ateu, feirense, torcedor dos Flus de Feira e do Rio e da Seleção Brasileira.
Que venha o hexa!
Eu não
quero falar de você que não gosta e não saca nada de futebol e, como
desdobramento, odeia Copa do Mundo.
Quero
falar de você que gosta. Mas, por odiar a FIFA, não gosta da Copa do Mundo.
Não quero
falar com você, que odeia a CBF, mas que curte todos os títulos de seu time,
conquistados em eventos daquela Confederação.
Quero
falar de você, que odeia o bolsonarismo e sente vergonha de usar, desfraldar as
cores do Brasil.
Não quero
falar com você que vai escolher outra Seleção para torcer, buscando aspectos
técnicos e táticos.
Quero
falar de você, que gosta de futebol e vai torcer por outra Seleção, pois a
brasileira tem uma maioria bolsonarista, mas ignora o posicionamento político
de cada um dos atletas daquela pela qual você vai torcer.
Quero
falar de você que, falando de um lugar que acha ser o da esquerda, reclama, com
razão, dos mais de 6 mil trabalhadores mortos nas obras da Copa do Qatar, mas
que continua vibrando com os títulos do clube que matou meninos e que buscou
barganhar com as famílias das vítimas para desembolsar menos dinheiro com os
que perderam seus filhos.
Quero
falar com você que vibra com os títulos conquistados pela gestão eficiente (!)
de uma diretoria bolsonarista e por uma maioria de atletas adoradores do
genocida. O que importa é quantos Mundiais de Clube, de Libertadores, de Copa
do Brasil, de Recopa, de Sul-Americanas, de estaduais...
Quero
falar com você que não torce pela Seleção Brasileira, baseado em discurso
social, mas torce para times, cujas torcidas gritam palavras machistas,
racistas e homofóbicas contra adversários.
Não, não
quero falar com você que escolheu torcer para clubes que desenvolveram práticas
democráticas de gestão ou que combateram o racismo.
Não quero
falar com você que sacou que o futebol se transformou em um grande negócio, que
torna 1% (número sem qualquer base científica) de seus praticantes em
milionários, alterando sua condição social e, consequentemente, ideológica.
Quero
falar com você que torce para clubes que jogavam pó-de-arroz em seus atletas
para satisfazer ao racismo vigente...
Não falo
com quem gosta DE FUTEBOL. Dos dribles.
Quero
falar com você que, democrata de esquerda, concorda que quem realiza a maior
façanha em uma partida, O GOL, e que não pode dançar, ou comemorar como quiser,
extravasando sua alegria, pois ofende quem foi buscar a bola no fundo da rede e
merece agressões físicas do derrotado e de seus fanáticos torcedores.
Quero
falar com você que odeia a ideia de driblar, bater de três dedos, dar chapéu,
dar caneta, ir e voltar com a bola, bater de chapa, pois humilha o adversário.
Quero
falar com quem está deixando de gostar de futebol.
Não quero
falar com quem curte futebol.
Quero
falar com os que se dizem comunistas e que não vi torcendo para que a República Moldava
da Transnístria, a República Popular da China, a República de Cuba, a República
Democrática Popular da Coreia do Norte, a República Democrática Popular do
Laos, e a República Socialista do Vietnã, fossem disputar a Copa. Ao
contrário, sendo o Brasil verde-e-amarelo, escolheram outro capitalista,
colonizador, ou imperialista para torcer.
Amanhã é
a estreia da Seleção Brasileira. Respeito sua escolha. São diversos fatores que
nos levam a escolher para quem torcemos. Não precisa ficar driblando nos
argumentos. Sei das nossas, humanas contradições. Mas, permita que eu torça
para o ainda melhor futebol do mundo.
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