Prefeito de Jequié é
afastado em operação da PF que apura fraudes em contratos e desvio de verbas no
município
Foram expedidos 10 mandados de busca e apreensão, além
de medidas cautelares diversas da prisão. Investigação identificou
irregularidades em suposta cooperativa que venceu licitação para fornecer mão
de obra terceirizada.
15/09/2020 08h13
Uma operação da Polícia Federal (PF) foi deflagrada na
manhã desta terça-feira (15) para combater crimes de fraude à licitação e a
direitos trabalhistas, além de desvio de verbas públicas, em Jequié, no
sudoeste da Bahia. Como parte da operação, foi cumprido um mandado judicial que
determinou o afastamento do prefeito Sérgio da Gameleira (PSB) pela segunda vez.
O afastamento foi expedido
pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região e vale por 60 dias. O G1 entrou em contato com
a prefeitura de Jequié, que informou que, por enquanto, não vai emitir nota
sobre o caso
Batizada de Guilda de Papel, a operação cumpre 10 mandados de busca e
apreensão e cinco medidas cautelares diversas da prisão. Além de Jequié, as ações foram realizadas
também na cidade de Feira de Santana,
a cerca de 100 quilômetros de Salvador.
Irregularidades em suposta cooperativa
De acordo com a PF, as investigações da operação
começaram em 2019, depois que vereadores
de Jequié fizeram representações relatando que uma suposta cooperativa teria
vencido uma licitação para o fornecimento de mão de obra terceirizada, para
prestação de serviço para diversas secretarias do município.
Nos documentos apresentados pelos vereadores, no entanto, a suposta
cooperativa na verdade seria uma empresa intermediadora de mão de obra, que
estaria cobrando valores muito superiores ao que eram pagos aos prestadores de
serviço.
Os vereadores identificaram ainda que
"verbas fictícias" também estavam sendo pagas a pessoas que nunca
integraram o quadro de funcionários da suposta cooperativa.
A PF então analisou um pregão presencial
feito pela prefeitura de Jequié, e identificou um contrato de
R$ 29.264.658,72 para o fornecimento de profissionais para todas as secretarias
do município.
Ainda nas investigações, a PF também
constatou que a licitação foi realizada em lote único, uma modalidade que
contraria a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Tribunal de Constas da União
(TCU). A licitação foi vencida pela suposta cooperativa.
Entre as irregularidades da suposta cooperativa, a Polícia Federal
apurou que:
Não se tratava de uma
cooperativa, mas sim de uma empresa intermediadora de mão de obra;
Possuía como
“cooperados” pessoas de todas as ocupações possíveis, tais como técnicos de
nível superior, pedreiros, cuidadores em saúde, auxiliares de serviços gerais,
merendeiras, etc;
Não efetuava o
pagamento do mínimo das verbas trabalhistas impostas pela legislação aos seus
supostos “cooperados” – sendo que alguns deles chegavam a receber uma
remuneração inferior a um salário mínimo – e nem fornecia equipamentos de
proteção individual (EPIs) aos trabalhadores;
Cobrava junto ao
município verbas ilegais, a título de “seguro”, “avanços sociais”, “reserva
desligamento cooperado”;
Cobrou do município
de Jequié pela prestação de serviços de pessoa que nunca integrou os quadros da
suposta Cooperativa.
A operação Guilda de Papel foi batizada em referência ao conceito
histórico de “guildas”, que eram associações que, na Idade Média, agrupavam
indivíduos de mesma profissão ou ofício para se proteger, como as atuais
cooperativas.
Embora a empresa envolvida no caso se denomine como cooperativa, ela é
na verdade uma empresa intermediadora de mão de obra e uma cooperativa apenas
“no papel”.
Improbidade e prejuízo de
R$ 5 milhões
O prefeito de Jequié já havia sido afastado em junho deste ano, para investigação de improbidade administrativa. Na época, o Ministério
Público da Bahia (MP-BA) identificou que ele teria causado prejuízo de
aproximadamente R$ 5 milhões aos cofres públicos.
O afastamento se deu por 90 dias, após uma votação na Câmara Municipal
de Jequié. O prefeito foi denunciado depois de não repassar ao INSS os valores
que foram descontados nos contracheques dos servidores municipais, além de
suposta fraude em dispensa de licitação e atraso no pagamento de funcionários
públicos.
A Câmara de Vereadores identificou, após denúncias, uma série de
irregularidades na gestão do prefeito Sérgio da Gameleira, dentre as quais, uma
que diz respeito ao pagamento de juros e multas à Previdência Social por parte
do gestor municipal.
OPERAÇÃO GUILDA DE PAPEL
Reviewed by gutemberg suzarte
on
setembro 15, 2020
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